Artigo

O Bardo e o Imperador: O olhar de Kurosawa sobre Shakespeare em "Trono Manchado de Sangue"

Steven Spielberg certa vez disse que Akira Kurosawa (1910-1989) era o “Shakespeare cinematográfico”. Tal como o Bardo, que revolucionou o teatro, Kurosawa lançou um novo olhar sobre planos, iluminação e efeitos audiovisuais, criando um cinema de autoria. Não a toa ele ficou conhecido como “Imperador”, por seu perfeccionismo quase tirânico.
Ele assumidamente recebeu influência estrangeira, aprendendo estilo e técnica com Chaplin, Eisenstein, Ford e outros (e por isso foi criticado no Japão, numa época em que seu povo rejeitava elementos culturais ocidentais), mas incorporou aspectos e valores tradicionais da cultura japonesa em obras que, mais tarde, inspirariam cineastas consagrados, incluindo o próprio Spielberg, Coppola e Lucas.
Ao celebrarmos 100 anos do seu nascimento, este artigo pretende revisitar seu legado. A proposta é, após discutir as características gerais de sua obra, analisar sua visão, transposta para a tela, de uma tragédia imortal de Shakespeare. Um objetivo secundário é definir o conceito de ‘filme shakespeariano’. Por fim, a partir de um paralelo entre o texto do Bardo e a narrativa audiovisual do Imperador, discutindo aspectos transculturais, geográficos e históricos, procuramos entender a forma como o diretor trabalhou com a obra shakespeariana.
O filme é Trono manchado de sangue (Kumonosu-jo, 1957), inspirado em Macbeth, que tal como a obra teatral, se tornou um clássico. Pela análise de elementos do filme e de momentos análogos da peça, tentaremos demonstrar que, enquanto é um ‘filme shakespeariano’, Trono manchado de sangue também é uma obra completa em si mesma, com vida própria e força narrativa que denotam a marca do gênio de Kurosawa.

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