Miscelânea

Lâmpadas Coloridas: Intolerância, Ignorância e Diferenças

Por Rosane Santiago Cordeiro

Intolerância. A mais terrível doença que o ser humano pôde criar e que em pleno século XXI insiste em existir. Exatamente quando pensávamos que poderíamos esquecer os desastres racistas que aconteceram em tempos passados, estes ressuscitam ainda mais desequilibrados... Este texto trata de personagens pouco conhecidos, agentes da história mundial que tornaram-se invisíveis para sobreviver. Bonitos, talentosos, repletos de idiossincrasias, odiados, amados, perseguidos, singulares. Com tantos critérios de vida ligados a tradições milenares, talvez obsoletas, esta gente heterogênea permanece um só povo: o cigano.
Em novembro de 2007 viajei da Espanha, mais precisamente da Andaluzia, direto para a Itália. Cheguei à estação de metrô de Milão, onde fui me encontrar com um amigo brasileiro que vive ali há mais de quinze anos. Mudamos de linha, e durante este trajeto me sentia incomodada em como as pessoas me olhavam insistentemente. Minha cabeça viajava na possibilidade de estar fazendo algo que não era compatível com aquele povo. Seriam minhas roupas? Talvez a maquiagem estivesse borrada... Perguntei a meu amigo: “O que acontece? Todos me olham de cima a baixo”. Num sorriso constrangido, meu amigo disse: “não fique chateada com o que vou dizer, por favor, mas você está uma cigana perfeita”.
Em um primeiro momento não entendi porque deveria me chatear. Assustava-me a ideia de que meu amigo, homossexual, que ostenta em seu histórico de vida lutas e discursos em prol de liberdades e minorias, tivesse opiniões com relação aos ciganos tão contrastantes com os seus discursos “antipreconceito”. No Brasil existe muito preconceito racial, mas ao mesmo tempo temos uma assimilação do diferente que me parece, se comparada a de outros lugares, inacreditável. A frase “você está uma cigana perfeita”, dita pelo mesmo amigo aqui no Brasil, se transformaria em elogio, não seria nada ruim. Mas dito na Itália, precisamente em Milão, torna-se um atestado de rejeição e xenofobia.

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