Miscelânea

O Urso-Mid(i)as

Por Loren Almeida

fotoHá semanas o assunto de destaque na imprensa alemã é a crise dos bancos de investimentos, que teve uma severa repercussão em especial na Alemanha. Uma grande instituição financeira alemã fez um aporte de milhões de dólares num banco de investimentos americano e viu seu dinheiro sumir num piscar de olhos. O fato em si e todas as repercussões decorrentes foram o prato principal do noticiário nos últimos dias, com espaço garantido nos veículos de comunicação. No entanto, especificamente no dia 23 de setembro, na capital do país, outra notícia suplantou a crise, ao menos na mídia, e foi primeira capa de todos os jornais de Berlim: a morte repentina do tratador de Knut, o Urso Polar Celebridade do Zoológico da cidade no dia anterior.

Desde seu nascimento, Knut foi o centro da atenção midiática: o frágil ursinho rejeitado logo após o nascimento pela Ursa Mãe e resgatado pelos tratadores do Zoológico. O fato já era digno de comemoração, pois era a primeira vez em mais 30 anos que um urso polar nascido em cativeiro sobrevivia no Zoológico de Berlim.

Mas a história de Knut ia além, com elementos dignos dos filmes: radicais eram contra sua criação por humanos e pediam que ele fosse abandonado à morte, por outro lado, o clamor público gerado por essas citações criaram movimentos de cartas e demonstrações públicas de crianças e adultos pela vida do filhote, trazendo notoriedade ao ursinho, ao Zoológico e conseqüentemente, imensas possibilidades de marketing, sabiamente exploradas.

Mas há também um outro elemento, aquele que prende nossa atenção nos filmes sobre a amizade entre homens e animais: a conjunção entre Homem e Natureza, o ursinho Knut e o tratador tratador responsável por seus cuidados básicos. A simbiose entre o filhote e seu tratador tiveram o poder de hipnotizar o público, que passou a consumir o cotidiano e a imagem associadas de ambos. O ursinho-celebridade nacional transformou seu tratador em uma celebridade local.

Thomas Dörflein, o tratador, tomava às vezes de "mãe" e estava sempre ao lado do indefeso filhote para desempenhar as funções básicas que a mãe natural recusou: prover alimentação, proteção e acompanhá-lo nos momentos de lazer. Ficou conhecido informalmente como o "Pai" do Knut. Não era raro ver fotos ou filmagens dos dois em momentos de brincadeiras ou de afeto, dando mais credibilidade à imagem de urso doce e acessível, como nossos ursinhos de pelúcia.

Tudo em torno de Knut tem o poder de atrair a atenção pública: até mesmo a morte do seu tratador. Em Berlim, no dia seguinte à descoberta do corpo, todos os jornais colocaram o assunto na capa, dando destaque e repercussão ao assunto. A morte repentina de um aparentemente homem saudável de 44 anos geraram especulações dos jornais sensacionalistas e pautas para os demais. O anúncio da morte na segunda-feira, dia 22, alimentou a imprensa com Knut e as histórias secundárias por toda a semana.

Nos dias posteriores foi esclarecido que ele teve um ataque fulminante do coração. Mas o acontecimento continuou a render frutos nos veículos de comunicação. Foi dada cobertura a pequenas manifestações de pesar e entrevistas de pessoas próximas a Thomas. Já um canal de televisão produziu ao fim da semana um especial com a imagem de Knut enquanto bebe junto a seu tratador, intercalado com depoimentos dos outros funcionários do Zoológico.

E o Zoológico de Berlim já anunciou a criação do Premio Thomas Dörflein, a ser dado anualmente ao melhor tratador do Parque.