Miscelânea

A construção do Brasil pelo imaginário estrangeiro

por Elis de Aquino

fotoQuando se fala em Brasil para um estrangeiro, qual será a primeira imagem que  vem à cabeça? Até mesmo um brasileiro pensará em clichês que já são consagrados como marcas nacionais, tais como futebol, sol, mar, mulheres bonitas e seminuas, carnaval, sexo. O que poucas pessoas param para refletir é que, por trás dessa imagem de paraíso, lugar fora do tempo, onde não é preciso trabalhar, onde tudo é festa, existe um Brasil completamente diferente, com grande potencial econômico, uma das grandes potências emergentes e com muito mais para mostrar além de bundas monumentais.

Boa parte dessa imagem, muitas vezes absurda e equivocada, que se compartilha amplamente no exterior a respeito do nosso país, foi criada pela indústria cultural, principalmente através de filmes. Portanto, com a proposta de entender a criação desses clichês e confrontá-los com a realidade, a cineasta Lúcia Murat produziu o documentário “Olhar Estrangeiro”, no qual entrevista atores, roteiristas e diretores estrangeiros que, em algum momento de suas carreiras, produziram filmes que retratavam o Brasil. Nele, comentam sobre suas obras e sobre como seus filmes influenciaram a ideia que se tem de Brasil atualmente.
Nos trechos desses filmes, trazidos pelo documentário, mulheres fazem topless nas praias, ninguém trabalha, todos são felizes, macacos convivem com as pessoas, rituais de candomblé são realizados a todo o momento, como se tudo isso fizesse parte do cotidiano brasileiro.
Em sua maioria, atores e diretores confessaram não ter o mínimo de conhecimento sobre o país, muitos deles nem chegaram a filmar aqui. Admitem que manipularam os fatos para criar uma história rentável e mais interessante para o público estrangeiro. Uma das poucas tentativas de fazer algo diferente, mais próximo do real, foi empreendida por Orson Welles, que veio ao Brasil a fim de produzir um documentário sobre o Carnaval, mas nunca chegou a ser concluído.
Em sua maioria, atores e diretores confessaram não ter o mínimo de conhecimento sobre o país, muitos deles nem chegaram a filmar aqui. Admitem que manipularam os fatos para criar uma história rentável e mais interessante para o público estrangeiro. Uma das poucas tentativas de fazer algo diferente, mais próximo do real, foi empreendida por Orson Welles, que veio ao Brasil a fim de produzir um documentário sobre o Carnaval, mas nunca chegou a ser concluído.
Fica evidente que uma das principais motivações para a criação desses estereótipos é uma busca pelo paraíso, uma idealização romântica e exótica que não respeita os limites do real, e isso é feito em nome “da arte”. Segundo o documentário, em mais de 40 filmes estrangeiros, o Brasil é retratado como rota de fuga para bandidos, que aqui chegam e são recebidos com festas embaladas com samba, dançado por mulatas esculturais.
Além dos principais responsáveis pela criação desses estereótipos, pessoas de várias nacionalidades, expectadoras desses filmes, são questionadas sobre o que pensam a respeito do Brasil: as mulheres, sexo, a Amazônia, a mestiçagem etc. são as respostas mais recorrentes, óbvias e que não fogem dos clichês.
O cinema nacional agora tem um papel importante na desconstrução dessa visão, pois nunca antes houve uma produção tão grande, com qualidade técnica suficiente e de alcance tão amplo, capazes de mostrar um Brasil visto pelos olhos brasileiros. Contudo, o próprio cinema nacional precisa passar por uma reflexão. Os maiores sucessos falam apenas da marginalização, do negro pobre, bandido, da favela vista de fora, sem a sensibilidade e conhecimento profundo da comunidade, com um olhar “estrangeiro” e anacrônico, distante, perpetuando os (pré)conceitos que os próprios brasileiros têm. Apesar disso, já estamos nos encaminhando para uma mudança e cabe a nós promover uma nova visão de quem somos, o que vai muito além de Copacabana, Ipanema, carnaval, futebol e mulheres.

Ficha técnica - documentário:
Título: Olhar Estrangeiro (2006 / Brasil)
Direção: Lúcia Murat
Gênero: Documentário
Duração: 70 min
Site oficial:http://www.taigafilmes.com/olhar/

Clique aqui e leia o texto na íntegra.