Literatura

Confissões de uma máscara (Kamen no Kokuhaku) - Yukio Mishima

Tradução: Jaqueline Nabeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2004

capaPor Janete Oliveira

Publicado em 1949, "Confissões de uma Máscara" foi o primeiro romance de sucesso nacional de Yukio Mishima. Narrado em primeira pessoa e incluindo algumas referências autobiográficas como, por exemplo, o fato de o avô de Mishima ter servido como governador nas Ilhas Sacalinas durante a guerra entre Japão e Rússia (nota do tradutor do livro), o fato de ter sido dispensado do campo de batalha durante a segunda guerra e de ter morado com a avó por um tempo.

Escreveu Confissões quando tinha 24 anos e concorreu a três prêmios Nobel durante a sua vida, muito embora não tenha ganho nenhum. Nascido em Tóquio em 1925, sob o nome de Kimitake Hiraoka, é autor de contos, peças e ensaios, mas alcançou a fama como romancista. Autor de obras importantes do seu país, como "Confissões de uma máscara" (1949), "O templo do pavilhão dourado" (1959) e a tetralogia "Mar da Fertilidade" (1966-70). Ao lado de outros autores como Yasunari Kawabata (que foi seu grande incentivador na entrada no mundo da literatura), Junichiro Tanizaki e, contemporaneamente, Haruki Murakami, Mishima está entre os autores japoneses que alcançaram fama mundial. No mesmo dia em que concluía seu último livro ele se matou.

Mishima cometeu suicídio ritual em 25 de novembro de 1970 no quartel general do Exército de Auto-defesa japonês em Tóquio, ao qual serviu e formou o grupo Tatenokai (Sociedade da Armadura). Acompanhado de alguns membros do grupo invadiu o local e suicidou-se ali aos 45 anos.

"Confissões" conta a história de um menino (do qual nunca sabemos o nome) que se lembra da sua vida a partir do primeiro banho e que desperta para suas tendências homossexuais ao descobrir uma coleção de reproduções de nus artísticos que o pai havia trazido do exterior. Ao se deparar com a pintura de São Sebastião, tem a primeira de muitas masturbações em frente à foto e desperta também para sua obsessão pela morte. Escreveu um poema em prosa para a foto em que se lia a frase: "A beleza que exibia Sebastião, o jovem capitão da Guarda Pretoriana, não estaria destinada à morte?" (p. 41).

Ao perceber que há algo não aceito em seu comportamento, o menino decide que para poder viver em sociedade é preciso usar uma máscara (a Kamen do título do livro). Por esse motivo refreava seus desejos com relação a outros homens e sempre se decepcionava ao perceber que suas expectativas não eram compreendidas pois elas não estavam de acordo com o que era aceito socialmente. Acabou se envolvendo superficialmente com algumas mulheres para se disfarçar perante os outros.

"Todos dizem que a vida é como um palco. Não acho, porém, que haja muitas pessoas como eu, que desde o final da infância, tenham tido como eu a consciência de que a vida é de fato, um palco." (p. 82)capa

Como este romance tem vários traços autobiográficos, muitos tomam-no como a confissão da homossexualidade de Mishima. No entanto, esse assunto sempre foi alvo de controvérsia pois a viúva do autor (ele se casou e teve dois filhos) preferiu deixá-lo na obscuridade embora haja registros de que Mishima freqüentava bares gays e, no momento do seu suicídio, a pessoa escolhida para cortar-lhe a cabeça depois do seppuku (corte da barriga com espada) era seu amante, mas na hora falhara e outro membro da Tatenokai o teria feito. A vida de Mishima tanto quanto sua obra despertam muito interesse por terem sido intensas. E, "Confissões", independentemente de ser autobiográfico ou não, mostra muito bem que o jogo, e ao mesmo tempo dilema, entre essência e aparência que representamos durante a nossa vida, utilizando-nos de máscaras para poder viver em sociedade.

Links

www.kirjasto.sci.fi/mishima.htm (em inglês)

http://www.mishimayukio.jp/index.html (em japonês)

http://en.wikipedia.org/wiki/Yukio_Mishima ( em inglês)