Entrevistada:

Loren Almeida

Por Janete da Silva Oliveira

suzuki

Perfil: 25 anos, é formada em Relações Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Agora que você está morando na Alemanha, compare a visão que você tinha antes e depois.

Trabalhei antes com alemães de várias partes do país e em ocasiões diferentes e já neste começo minha visão sobre Alemanha e os alemães era muito positiva. Os relacionamentos e contatos eram muito agradáveis, a despeito da opinião comum que os alemães são frios ou distantes. Por isso, eu sempre a refutei.

Mas percebo, estando efetivamente na Alemanha, que há um fio de verdade nesse pensamento. Percebo que nos espaços públicos, na área de trabalho, enfim, em lugares no qual o papel desempenhado pede impessoalidade, eles correspondem, em muitos momentos, ao estereótipo de calculistas, precisos e secos. Confesso que a confirmação desse traço, de alguma forma, foi um pouco desapontadora.

Mas no convívio íntimo, entre amigos e família ou conhecidos de longa data, a primeira impressão que tive volta a se confirmar: são pessoas amáveis, gentis e sim, brincalhonas e alegres.

Qual é a principal diferença que você percebe entre Brasil e Alemanha em termos de cotidiano?

Os alemães são obcecados por hora, relógios, pontualidade. O cotidiano é envolto por minutos, horários de partida e chegada. Claro que também por parte deles acontecem atrasos, mas é algo do qual se ressentem. Os 5 minutos de tolerância não é uma instituição como é no Brasil (risos).

Sua adaptação foi difícil? Quais as principais barreiras de adaptação?

Ainda me considero no período de adaptação... Para mim, as maiores dificuldades são a barreira da língua, já que é o principal canal para se inserir numa cultura estranha, para entender o que passa e a reagir a isso. Mesmo tendo aprendido alemão básico antes de sair do Brasil, viver aqui me coloca frente a situações e momentos aos quais nenhum curso pode preparar. Sem contar que a gramática alemã me parece dificílima. Ainda me sinto deslocada por não dominar o idioma.

Outra barreira que agora começa a ter mais peso para mim é o frio. Ainda não consegui me acostumar com as temperaturas em si e toda a parafernália que as acompanham: casacos, vestes térmicas, aquecedores, água fria, áqua quente etc. O frio tem uma forma própria de conduzir a rotina e as pessoas. Coisas que a gente não pensa muito vivendo num país tropical podem ser prejudiciais se não observadas no clima temperado.

O que você destaca como atrativos na Alemanha?

A Alemanha é um lugar seguro e eu diria até previsível: você sabe o que vai encontrar, as regras são claras. Além disso, é culturalmente rica e diversificada. Cada região tem um traço característico, um jeito próprio. De uns tempos pra cá, tenho me interessado por como era a antiga Alemanha Oriental que apresenta características diferentes do lado ocidental.

Há espaço (e mercado) para todo tipo de nicho: você encontra seu lugar se você é vegetariano, rapper, homossexual, ecológico, ciclista, enfim, isso sem ser entediante como o "politicamente correto". Ser parte de uma tribo é encarado com mais naturalidade pelo grupo maior que não partilha desse interesse.

Outra coisa que percebo é que há um apuro com a forma, a apresentação das coisas. Seja num pequeno café ou numa loja de departamentos, há uma preocupação na decoração e na disposição dos produtos e alimentos. Há uma indústria especializada em guardanapos, papel de presente, flores, artigos decorativos, para citar alguns itens, cujos motivos variam conforme a época do ano e a data festiva.

E o que você destaca como coisas não tão atrativas na Alemanha?

Tende-se a valorizar a impessoalidade, o tratamento formal e isso para mim, que me identifico inteiramente com a latinidade, é um ponto negativo. Por exemplo: há uma forma de tratamento pessoal na língua alemã que se refere a pessoas que você não tem intimidade. Para mim, esse é um mecanismo de afastar o "outro", de torná-lo parte de uma categoria neutra e na minha opinião, isso tira a espontaneidade e a cumplicidade de um relacionamento, mesmo que comercial.

Que dicas você daria para alguém que pretenda morar ou passear no país?

Para passear, saber inglês é suficiente. Além disso, procure fazer um esboço sobre o que você se interessa, quais lugares quer visitar e pesquisar previamente o que há ali, porque em todas as grandes cidades há várias atrações. Então vale a pena se planejar para não perder oportunidades.

Mas para quem vai ficar mais tempo e quiser entender mais de uma cultura, precisa se comunicar da forma que os nativos o fazem. Não é preciso ser diplomado em alemão, mas algumas estruturas básicas é importante conhecer.

E uma providência mais simples: preparar-se para a época fria trazendo casacos.

Quais são seus planos para o restante da sua estadia em Berlim?

Pretendo me dedicar a estudar alemão, para mais tarde, quem sabe, tentar entrar num Mestrado.