Entrevistado:

Kotaro Suzuki

Por Janete da Silva Oliveira

suzukiPerfil: 24 anos, formado em Fonética na Meiji Gakuin Daigaku em Tóquio. Nascido e criado na Terra de Sol Nascente. é descendente de Samurai de Iwate (um estado nordestino do Japão) e Gueisha de Quioto.

Como você se interessou por capoeira?

Como você se interessou por capoeira? O primeiro contato foi quando tinha 8 anos mais ou menos através do videogame no qual havia um jogo e tinha um cara que jogava capoeira. Fiquei interessado mas não prestava muita atenção. Passou muito tempo e treinava tênis e badmigton na escola. Quando tinha 18 anos entrei no taekwondo, mas parei para estudar para o vestibular e, quando passei, pensei em continuar o taekwondo, mas como meu irmão já treinava capoeira, ele me levou para o treino de capoeira mesmo sem eu querer.

Eu pensava que capoeira não dava para praticar na rua para se proteger, achava que era dança. Não estava afim. Eu gostava de dança, mas se pudesse aprender artes marciais, gostaria de uma que pudesse praticar mesmo. Na primeira aula na qual meu irmão me levou eu gostei porque tudo foi muito diferente, tinha música, canção, tinha balanço, e me senti muito alegre naquela cadência, naquele ar. Música e movimentos bonitos. Larguei o taekwondo e comecei a treinar capoeira com um professor japonês. Isso foi em 2002.

Em 2003 vim para o Rio de Janeiro para ficar um mês treinando com mestre e professores brasileiros. Durante esse um mês eu fui a vários lugares: Copacabana, Bonsucesso, Rocinha, Campo Grande etc. Eu vi coisas lindas e coisas feias, coisas muito diferentes da minha terra. Vi gente morta à queima-roupa enquanto eu andava de ônibus. Naquela época eu entendia mais ou menos o português, mas falava pouco.

Como você começou a estudar português?

Eu comecei a estudar português junto com a capoeira, ao mesmo tempo. Quando eu comecei na capoeira eu comprei logo um dicionário de japonês-português e aprendi músicas da capoeira com o dicionário na mão e um livro pequeno de gramática na outra. E foi assim que aprendi português porque na minha cidade não tem muitos brasileiros.

E como foi a sua segunda visita ao Brasil?

visita ao Brasil? Depois de voltar da primeira viagem ao Brasil, eu fiquei pensando em ficar mais tempo no Brasil e fazer alguma coisa para melhorar a minha experiência, algo para me ligar com o Brasil. E achei uma associação de intercâmbio, fiz minha inscrição e virei candidato junto com outros 60 que, para passar na prova para vir ao Brasil, fizeram muitas coisas: estudamos sobre o Japão e o Brasil lendo 50 livros antigos sobre ambos os países; participei de reuniões de uma comunidade de órfãos que tinham dificuldades para estudar na escola e pedi dinheiro na rua para eles oito horas por dia, durante 4 dias, sozinho em frente à estação; andei 100 km sem dormir etc. E no final da prova consegui arrumar um lugar para ficar no Brasil e só duas pessoas podiam ficar no Rio e eu consegui. E em abril de 2005 cheguei ao Rio.

Era estagiário na parte de projetos da CEDAE, trabalhava no da despoluição da baía de Guanabara e dava aula de língua japonesa na Uerj com professora brasileira. E durante esse ano treinei e pesquisei muito sobre a capoeira brasileira, visitando o subúrbio, interior e favela, convivendo com pessoas de várias classes especialmente classes baixas.

Fiquei querendo morar no Brasil, como professor de capoeira e com algum outro trabalho para sustentar a minha família no futuro.

A capoeira é popular no Japão?

Ainda não é muito popular mas está crescendo porque muitos japoneses já vieram ou ainda estão aqui para melhorar fundamento de capoeira deles.

O que você mais gosta do Brasil?

Dança, música, o caráter alegre dos brasileiros e muitas culturas juntas. O brasileiro é acolhedor com os estrangeiros, é hospitaleiro.

O que você não gosta do Brasil?

Violência, pessoas que se aproveitam das outras e alguns brasileiros são infantis e ficam tão cruéis como toda criança pode ser.

A partir de agora quais são seus planos para o seu futuro?

Vou treinar um pouco mais de capoeira aqui no Rio e volto para o Japão para começar um trabalho de capoeira (ensino). E também vou ensinar tambor de crioula que eu aprendi no Maranhão.

Alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de dizer?

Uma coisa que gostaria de dizer é que japonês e chinês são diferentes. Quando me perguntam porque não gosto de ser chamado de chinês, eu respondo que é porque eu sou japonês e não chinês. No Maranhão e no Rio muita gente pergunta qual a diferença entre japonês e chinês e eu respondo: culturas diferentes, países diferentes e línguas diferentes, mas me respondem que é tudo igual. Então eu pergunto qual a diferença entre cearense e maranhense ou entre colombiano e brasileiro e não me respondem. Eu acho que eles são diferentes, culturas diferentes, assim como japoneses e chineses são diferentes. Não que eu ache os japoneses melhores que os chineses, são apenas diferentes. Logo, eu acho falta de respeito tanto com os japoneses como com os chineses dizer que não tem diferença, que é tudo igual.

foto de Ewerthon Tobace