Artigo

Quem ouve Lili Marlene?

Escrito por João Paulo Cruz

Há muitas décadas, Hollywood aprendeu que certas canções dentro de uma narrativa cinematográfica conseguem ultrapassar os limites da narrativa e cristalizar uma idéia ou um sentimento no imaginário do espectador. Sejam temas instrumentais ou canções com letras, bastam os primeiros acordes para instigar no público treinado (ou talvez adestrado) pelo cinema a reação eternamente ligada àquela mensagem sonora.

O melodrama, como gênero ou como estrutura narrativa, foi um dos pioneiros e principais veículos para esse tipo de uso da música. Heróis, mocinhas, vilões, amores, separações, ameaças e finais felizes ganharam uma faceta musical eternamente vinculada às suas características.

Quando cineastas de décadas mais recentes utilizam elementos do melodrama para criar um efeito de distanciamento, a música passa a ser utilizada de forma irônica, muitas vezes de forma aparentemente desconexa com a narrativa visual. A forma como o espectador lida com esse uso é uma das diferenças do chamado "melodrama distanciado" para o cinema tradicional.

Conforme diz Gerd Bornheim no texto "O Efeito de Distanciamento: o Público", a idéia do teatro épico de Brecht seria criar não apenas uma peça distanciada, com atores realizando uma interpretação distanciada, mas também que o próprio público ("razão de ser de toda atividade teatral") fosse um público distanciado. Em outras palavras, o público é retirado da posição de espectador passivo e colocado como o sujeito do sentido, o responsável pela realização do significado e pela utilidade final da obra (a compreensão do mundo, segundo Brecht).

Termine de ler o artigo em PDF.