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Japão: um país em extinção?

Escrito por Janete da Silva Oliveira

Pensando no futuro do Japão, o governo e vários analistas da sociedade e economia japonesas antevêem uma situação preocupante com relação à taxa de natalidade. Isto porque quase não há crianças, o número de idosos aumenta e a população economicamente ativa diminui. Qual seria a razão para isso?

Recentemente, o Japão tornou-se uma sociedade com baixa taxa de natalidade. De acordo com Ikegami (Ikegami, 2006, p.143), na década de 1970, a taxa de natalidade pela primeira vez ficou abaixo de 2. Deste período em diante não cessou a tendência decrescente. Em 2006 foi de 1,25.

Um dos fatos apontados para essa queda na taxa de natalidade é o fato do número de mulheres que, em vez do casamento, valorizam mais a carreira e a independência ter aumentado. São as career woman. Esse fato desestimula o aumento da natalidade, pois as mulheres japonesas estão adiando a gravidez e o casamento para se concentrar na vida profissional, já que os homens japoneses não ajudam na criação dos filhos.

Ikegami (ex-jornalista da NHK) apresenta um cálculo do tempo diário que os pais japoneses passam com os filhos comparativamente a outros países. Nesse cálculo, enquanto no Canadá o tempo dos pais com os filhos chega a 89 minutos, no Japão este tempo é de apenas 25 minutos, e também no que concerne à participação do homem nas horas de criação dos filhos dentro do casal, o mesmo Canadá apresenta um percentual de 43,4% enquanto que o Japão tem um percentual de 12,5%. A principal justificativa é que os homens voltam para casa muito tarde. E ainda persiste o pensamento que o homem é que deve trabalhar e trazer o dinheiro e a mulher mantém o lar. Pensam desta maneira no Japão, segundo Ikegami, 30,5%, ou seja, entre três pessoas, uma pensa desta forma. A mesma percentagem foi encontrada em Portugal. Contudo, percentagens neste nível só foram encontradas nestes dois países. Nos EUA, o mesmo foi de 23,3% e na França, 17,8%. No caso japonês, fazendo-se uma análise por idade, temos que entre os maiores de 70 anos, o percentual ultrapassa os 60%, tanto para homens quanto para mulheres. E mesmo entre os mais jovens, faixa dos 20 anos, um percentual acima dos 40% dos homens ainda pensa dessa forma, contra cerca de 35% das mulheres. Isso também se reflete no percentual da força de trabalho das mulheres no Japão em 2005: 9%, enquanto na Suécia há 43%.

Essa tendência da baixa taxa de natalidade, tem se estendido por mais de 30 anos e, por isso, no Japão de hoje, o número de jovens em condições de trabalhar e manter o sistema de aposentadoria e a economia tem se reduzido.

Em relação a essa preocupação de manutenção da economia e da população, além da baixa taxa de natalidade, acredita-se que existem ainda mais dois fatores influenciadores: os jovens chamados de NEETs e os hikikomori. Eles são fisicamente capazes de trabalhar, mas não o fazem por não conseguir ou querer ingressar na sociedade japonesa.

Depois que a bolha da economia japonesa entrou em colapso nos anos 1990, comparativamente com o passado, o número de pessoas desempregadas aumentou. E mesmo aqueles ainda empregados perderam a antiga segurança de se manterem assim para o resto da vida.

Na época da bolha especulativa, trabalhava-se na mesma empresa até a aposentadoria e podia-se vislumbrar um futuro seguro, pois havia o que se chamava "sistema de empregos para toda a vida" e, assim motivados, os japoneses trabalharam incessantemente. Embora até 1990 a situação econômica tenha sido favorável, após o estouro da bolha, este sistema de emprego perene ruiu e o estímulo de trabalho dos jovens de hoje vem decrescendo.

Alguns desses jovens, que não se juntam à população economicamente ativa, são chamados de NEET (Not currently Engaged in Employment, Education or Training, ou seja, atualmente não engajado em nenhum Emprego, Educação ou Treinamento) e, segundo a wikipedia, foi um termo utilizado primeiramente no Reino Unido e posteriormente em outros países, incluindo o Japão. Compreende "pessoas de idade entre 15 e 34 anos que são desempregadas, solteiras, não registradas na escola, não procuram trabalho ou o treinamento profissional necessário para trabalhar" ("http://pt.wikipedia.org/wiki/NEET" - consulta em 20 de julho de 2007, sem data de postagem).

Por outro lado, temos também os hikikomori (o termo significa "estar confinado") que, por serem pessoas que não conseguem se integrar à sociedade, aparentam ter algum problema psicológico. Incapazes de seguir o frenético ritmo de vida do país, no Japão existe um número enorme de adolescentes ou jovens que sofrem desse distúrbio - comportamento causado pela reclusão ou isolamento. Esses jovens vivem, por sua própria vontade, trancados em suas casas ou quartos durante anos:

"(...)Calcula-se que cerca de 1 milhão de pessoas apresente esses sintomas, mas as causas ainda não estão muito claras. Da explosão econômica dos anos 70 e 80 o Japão passou por uma crise que terminou há pouco tempo e agora muitos jovens não se sentem seguros quanto ao futuro quando saem das universidades." (Por Fernando A. Busca/agência EFE de notícias, Ipcdigital publicado em 9/4/2007 18:32:32, consulta em 20 de julho de 2008)

Esse comportamento dos jovens é, às vezes, associado ao fenônemo otaku Segundo étienne Barral, o otaku constitui uma nova fase do homo sapiens, o homo virtuens:

"Mas por que escrever no futuro? Esse homem novo, fascinado mais pelo virtual do que pelo real, já existe. No Japão, chamam-no otaku. Ele carrega todos os estigmas dessa mutação midiática que faz dele o primeiro espécime, ainda imperfeito, desse Homo virtuens. Criados com um controle remoto na mão em lugar de um chocalho, os otaku são a primeira geração multimídia. Serão lembrados como os primeiros ancestrais do Homo virtuens." (Barral, 2000, p. 21)

Com tudo isso, a população economicamente ativa vai diminuindo mais e mais. Some-se a isso também a prolongada expectativa de vida no Japão. Com esse aumento do número de idoso, faz-se necessário que outras estejam trabalhando para pagar-lhes a aposentadoria. Para solucionar este problema, imigrantes foram permitidos em maior número. Mas, mesmo sendo descendentes de japoneses ou de países asiáticos vizinhos, o Japão possui uma cultura peculiar que lhes parece muito diferente. A compreensão mútua não é das mais fáceis, houve e ainda há um choque, as relações humanas são difíceis. O Japão é um país criado sob a égide da homogeneidade, pois nunca foi invadido ou colonizado por nenhum outro país, além de ter ficado fechado ao contato externo por muito tempo (período Edo: 1603 a 1867). O Outro ainda é um elemento pouco familiar aos japoneses.

O Japão de hoje encontra-se numa grande encruzilhada econômica e social. Como manter uma sociedade que diminui a cada ano sem desestruturá-la?

Bibliografia

BARRAL, étienne. Otaku - os filhos do virtual. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000.

IKEGAMI, Akira. Nippon, Hontoni Kakusa Shakai? Tóquio: Editora Shogakukan, 2006.

KAWAMATA, Sachihiko. 2020Nen no Nihon Kara no Keikoku - A Warning From Future Japan. Tóquio: Editora Kobunsha, 2007.

SAKAKIBARA, Eisuke. Nihon ha Botsuraku Suru.Tóquio: Editora Asahi Shimbun, 2008, 2ª edição.

YAMADA, Masahiro. Shoshi Shakai Nihon: mou hitotsu no kakusa no yukue. Tóquio: Editora Iwanami Shoten,, 2007, 3ª edição.